Olhar puro, olhar de sabedoria

Monja Coen
10 de novembro de 2023
Texto da Monja Coen publicado no jornal O Globo de 23/07/2015

É chegado o momento de abrir os portais de nossa consciência verdadeira. Assim podemos apreciar melhor a experiência humana

O que é a sabedoria do olhar?

Qual a visão pura e clara da realidade?

Será que você está vendo através de etiquetas, de nomes, de grifes, de jargões, de clichês?

Ou observa em profundidade, avalia e reconhece o que é, assim como é?

Quando eu era pequena, me encantava um poema que minha mãe escrevera sobre meu avô:

“A única coisa que me separa de meu pai são os anos. O homem que analisa friamente e termina por reconhecer que não pode crer nem descrer, pois desconhece.”

Mas como conhecer? Reconhecer, rever, religar, reler.

A mídia internacional escolhe temas e estes são passados a todos os países. Quem faz essa escolha e por quê? Há interesses em divulgar misérias, crimes, abusos, guerras? Destacar o que divide, o que separa?

Não. Também não queremos óculos cor de rosa ou azuis de dizer que está tudo bem, tudo bem.

Há coisas maravilhosas e estranhas e há gatos selvagens e vacas brancas — reza um texto budista antigo.

Eu queria saber mais das coisas maravilhosas e estranhas.

Quero ter notícias do amor e do cuidado, do crescimento da solidariedade e da ternura.

Quero saber das pessoas honestas e boas que todos os dias se levantam cedo e dormem tarde, vivendo horas nos trens e nos transportes coletivos. Meus heróis e heroínas brasileiros.

Trabalhadoras e trabalhadores do bem. Guardiões do caminho iluminado.

Gostaria de manchetes internacionais com as nossas meninas da ginástica rítmica, um dos ouros brasileiros nos jogos Pan-Americanos de Toronto.

Houve pódios e mais pódios, até de tiro ao alvo.

Melhor ganhar nas competições esportivas com a habilidade de atirar do que nas batalhas das ruas.

Do que nos alimentamos? Do que alimentamos nossas mentes? Quem nos faz olhar para este ou aquele evento? Podemos realmente escolher, ouvir, ver, escutar, perscrutar?

No mosteiro de Nagoya, onde pratiquei por sete anos, minha superiora costumava nos dizer:

“Para ver televisão, primeiro temos de levantar as antenas. Sintonizadas, podemos escolher ao canal que queremos assistir. Pode ser o do drama, do sofrimento, do horror. Mas podemos mudar para o canal Buda. Você tem o controle. Saia do mundo da dor e entre no mundo do saber, compreender e atuar de forma iluminada.”

Olhar puro, olhar iluminado, é o observar profundo e sem máculas, sem apegos e sem aversões. Ver em profundidade. Não ser manipulada nem manipular ninguém.

Abrir o coração-mente para a sabedoria suprema. Compreender os justos e os injustos.

Os que dizem a verdade e os que mentem.

Pois somos todos seres humanos e frágeis, corrompíveis e sublimes.

Vamos estimular em nós e em todos os seres a capacidade de amar e cuidar? A empatia do reconhecimento do bem feito e do estímulo ao que beneficie o maior número de seres?

Além, muito além, deste ou daquele grupo.

Somos uma única família, a humana.

Somos a vida da Terra. É chegado o momento de abrir os portais de nossa consciência verdadeira, de nossa mente incessante e luminosa. Assim podemos apreciar melhor esta experiência maravilhosa e estranha de seres humanos no planeta Terra, Sistema Solar, Via Láctea.

Ah! As estrelas no céu podem nos contar tanto.

Mãos em prece.

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